Comportamentos Autolesivos no Autismo: Como Identificar e Acolher com Segurança

acolhimento de criança autista em crise sensorial com apoio da família

Quando o corpo fala o que a boca ainda não consegue dizer

“Meu filho está se batendo, ele se arranha, morde o próprio braço e às vezes dá cabeçadas na parede.” Essa é uma frase mais comum do que gostaríamos de ouvir. E cada vez que ela é dita, há dor, medo, insegurança e culpa do outro lado da linha.

Mas aqui vai uma verdade urgente: comportamentos autolesivos no autismo não são birra. Não são desobediência. São pedidos de ajuda. São tentativas — desesperadas, intensas e dolorosas — de comunicação.

Este artigo é um convite para olhar com mais empatia, mais escuta e mais estratégia. Porque a criança que se machuca está, na verdade, tentando se proteger de algo que o mundo ainda não entendeu.

📌 Este conteúdo é educativo e não substitui diagnóstico clínico. Em caso de autolesões, busque ajuda especializada.

👉 Leitura complementar: Criança Autista Não Verbal: Como Estimular a Comunicação com Amor e Respeito

O que são comportamentos autolesivos no autismo?

Comportamentos autolesivos são ações repetitivas em que a criança machuca a si mesma. No autismo, isso pode se manifestar como:

  • Bater a cabeça
  • Se arranhar até ferir
  • Morder braços, mãos ou dedos
  • Beliscar-se
  • Enfiar objetos no nariz ou ouvido
  • Arrancar cabelos

Essas ações causam dor física, sim. Mas também são reflexo de uma dor emocional, sensorial ou comunicacional não compreendida. A criança, sem conseguir verbalizar o que sente, fala com o corpo. E o corpo, às vezes, grita.

Por que esses comportamentos acontecem?

1. Sobrecarga sensorial
Luzes fortes, sons altos, texturas incômodas. O ambiente pode ser um campo de batalha para uma criança com hipersensibilidade. O corpo entra em modo alarme, e a autolesão surge como tentativa de autorregulação.

2. Comunicação limitada
A criança quer dizer: “Estou com dor.” “Estou com medo.” “Me tira daqui.” Mas como não consegue com palavras, recorre ao próprio corpo como meio de expressão.

3. Busca por estímulo
Algumas crianças com hipossensibilidade sensorial buscam sensações fortes. Morder, bater ou pressionar o próprio corpo trazem a sensação que falta no mundo externo.

4. Frustração e rigidez cognitiva
Mudanças inesperadas, interrupção de atividades favoritas ou negação de algo desejado podem gerar frustração extrema — e a criança sem recursos emocionais ou comunicacionais recorre à autolesão.

5. Dor física real
Otite, dor de dente, constipação. Quando não sabem verbalizar, mostram com o corpo. E às vezes, literalmente se machucam tentando “mostrar” onde dói.

“Ele só queria me mostrar que estava com dor”

Juliana, mãe do Caio (5 anos), conta:

“Ele batia a cabeça com força na parede. A gente achava que era birra. Um dia, descobrimos que ele estava com uma otite severa. Eu chorei tanto… A partir dali, nunca mais ignorei um comportamento desses.”

Essa história é dolorosa, mas real. Mostra o quanto precisamos olhar além do comportamento. A criança não está se machucando para chamar atenção — ela está implorando por atenção ao que sente.

E quando o adulto valida, escuta e investiga com respeito, a criança se sente segura. E aí, os comportamentos extremos começam a diminuir. Porque onde existe escuta, a dor se transforma.

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O que fazer ao identificar comportamentos autolesivos?

1. Proteja com segurança (sem força)

  • Afaste objetos perigosos
  • Use almofadas ou acolchoados
  • Leve a criança para um ambiente silencioso

2. Observe antes de reagir

  • O que aconteceu antes da crise?
  • Há estímulos em excesso?
  • A criança está com fome, sono ou dor?

Mapear os gatilhos ajuda a prevenir futuras crises.

3. Ofereça alternativas sensoriais

  • Brinquedos de morder (chewies)
  • Massagens
  • Almofadas sensoriais
  • Música suave com fones abafadores

4. Valide o sentimento
Diga: “Eu vejo que está difícil. Estou aqui com você. Vamos achar outra forma de mostrar isso.”

Mesmo sem entender as palavras, a criança sente a intenção no tom, no olhar, no abraço.

5. Busque ajuda profissional especializada

  • Psicólogos com foco em autismo
  • Terapeutas ocupacionais com abordagem sensorial
  • Fonoaudiólogos para ampliar a comunicação
  • Neuropediatras para investigar causas clínicas

✨ Pedir ajuda não é fraqueza. É cuidado. É proteção.

Como prevenir essas situações no dia a dia?

1. Crie uma rotina visual e previsível
Use quadros com imagens das atividades. Isso reduz a ansiedade e antecipa o que vem a seguir.

2. Avise sobre mudanças com antecedência
Antecipe transições. Use linguagem visual e acessível. A previsibilidade reduz frustrações.

3. Monte um “cantinho da calma”
Luz baixa, almofadas, brinquedos sensoriais. Um espaço de acolhimento para momentos difíceis.

4. Ofereça recursos de comunicação alternativa
Use PECS, pranchas, gestos ou aplicativos. Quanto mais formas a criança tiver para se comunicar, menos ela precisará usar o corpo para isso.

5. Observe necessidades físicas básicas
Fome, sede, calor, dor, sono. Tudo isso pode ser gatilho. O corpo fala. O comportamento responde.

A autolesão é um pedido de socorro, não de punição

Quando uma criança se machuca, o mundo precisa parar. Não para gritar. Mas para escutar. Não para punir. Mas para acolher.

Por trás de cada autolesão, existe uma mensagem:

“Estou tentando me regular.”
“Estou com medo.”
“Preciso de você.”

Quando o adulto responde com empatia e estrutura, algo poderoso acontece: a dor encontra espaço seguro para se transformar. E a criança aprende, com o tempo, a confiar — no mundo, nos adultos, e em si mesma.

🧩 Comportamento é linguagem.
🧠 O acolhimento é a tradução.

FAQ – Perguntas Frequentes

Toda criança autista apresenta comportamentos autolesivos?
Não. Mas eles são mais comuns em crianças com TEA com dificuldades de regulação emocional ou comunicação.

Esses comportamentos desaparecem?
Com intervenção adequada, apoio e acolhimento, tendem a diminuir — ou até cessar.

Devo segurar a criança?
Evite contenção física rígida. Proteja com almofadas, redirecione com carinho. O foco deve ser a segurança e a escuta.

📌 Se este conteúdo te ajudou, compartilhe. Quanto mais famílias entenderem o que está por trás da autolesão, mais crianças serão vistas, compreendidas e acolhidas com o respeito que merecem.

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