Toda criança precisa se sentir capaz, valorizada e aceita, principalmente quando o ambiente escolar começa a lançar luz sobre as diferenças de aprendizagem. Mas e quando essa luz se torna um holofote de julgamentos? Para muitas crianças com dislexia, o processo de alfabetização e escrita se transforma em palco de frustrações, rótulos e comparações constantes. E nesse cenário, a autoestima infantil pode ser profundamente afetada.
É comum ouvir pais perguntando: “Por que meu filho, que é tão inteligente, está sempre se sentindo menor?” A resposta pode estar na forma como a criança vivencia suas dificuldades e, principalmente, na forma como elas são interpretadas pelos adultos ao redor. Quando o erro vira motivo de vergonha, e não de aprendizagem, nasce dentro da criança a sensação de que “há algo de errado comigo”.
A relação entre dislexia e autoestima infantil é delicada e muitas vezes negligenciada. Um diagnóstico bem conduzido pode ser libertador, oferecer respostas e abrir caminhos. Mas, se apresentado de forma fria ou carregado de estigmas, pode aprisionar, alimentar medos e cristalizar a ideia de que a criança é incapaz.
✨ Este artigo é um convite para desconstruir mitos, acolher com empatia e mostrar que o diagnóstico da dislexia pode ser o primeiro passo para a liberdade emocional de uma criança que só precisa ser compreendida e não corrigida o tempo todo.
Como a Dislexia Impacta a Autoestima Infantil
A dislexia é um transtorno de aprendizagem específico, que não afeta a inteligência, mas pode abalar profundamente a forma como a criança se percebe. A cada dificuldade enfrentada para ler uma palavra, escrever uma frase ou acompanhar a turma, vai se formando um espelho distorcido da própria imagem. E nesse espelho, a criança começa a enxergar falhas onde, na verdade, existem apenas formas diferentes de aprender.
Enquanto os colegas leem com fluência, a criança disléxica encara os textos como labirintos. Cada linha pode ser uma batalha. As palavras se embaralham, as letras parecem trocar de lugar, e o esforço para acompanhar a aula vai se tornando exaustivo. Esse cenário constante de frustração pode gerar sentimentos de inadequação, insegurança e uma crescente baixa autoestima.
Não é raro ouvir desabafos como: “Eu sou burro”, “Nunca consigo acertar”, “A professora prefere os outros”. São frases que doem, mas revelam uma verdade silenciosa: a criança não está apenas lidando com dificuldades acadêmicas, ela está tentando proteger o pouco que resta de sua autoconfiança.
💡 Fortalecer a autoestima de uma criança com dislexia começa por reconhecer esse impacto emocional. Afinal, aprender diferente não significa aprender menos, e quando a escola, a família e os profissionais entendem isso, o processo educativo passa a curar e não mais ferir.
Rótulos que Machucam
A criança com dislexia muitas vezes ouve rótulos injustos antes mesmo de entender o que é o transtorno. Palavras como “preguiçoso”, “desatento” ou “lerdo” podem parecer inofensivas, mas funcionam como cicatrizes emocionais que moldam sua autoimagem desde cedo. Cada comentário pejorativo recebido na sala de aula, nos deveres de casa ou até mesmo em momentos de frustração familiar pode minar a confiança da criança, sem que ninguém perceba.
Essas mensagens negativas vão se acumulando como um eco interno: “eu não sou bom o bastante”, “sou diferente de um jeito ruim”, “não adianta tentar”. E o que poderia ser apenas uma dificuldade de leitura, escrita ou processamento linguístico, áreas que podem ser apoiadas com métodos adequados, se transforma em crença de incapacidade.
Mais do que um transtorno de aprendizagem, a dislexia pode se tornar, sem o suporte emocional necessário, um gatilho para baixa autoestima, ansiedade escolar e até mesmo isolamento social. É por isso que entender como a linguagem afeta o emocional da criança é fundamental. Nossas palavras têm o poder de levantar ou afundar mundos inteiros.
✅ A escola e a família precisam aprender a substituir rótulos por reconhecimento, e críticas por acolhimento. Quando dizemos a uma criança “você é esforçada”, “você está aprendendo no seu tempo”, “você é inteligente, só precisa de apoio”, estamos ajudando a reconstruir sua identidade de forma saudável e positiva.
A Dor Invisível por Trás dos Erros
Para muitas crianças com dislexia, errar não é apenas parte do processo, é um ciclo repetitivo de frustração. Elas tentam, se esforçam, prestam atenção… mas os resultados não acompanham a dedicação. E, com o tempo, cada erro não corrigido vira um lembrete cruel: “Eu não consigo.” A pergunta que ecoa no coração é ainda mais dolorosa: “Por que os outros conseguem e eu não?”
Esses sentimentos, acumulados, afetam diretamente a autoestima infantil. A criança começa a evitar atividades de leitura e escrita, teme participar de provas ou apresentações e se retrai até mesmo nas interações sociais. Ela não quer mais tentar porque já espera o fracasso e isso é devastador.
É essencial lembrar que dislexia não é preguiça, e muito menos desinteresse. O cérebro disléxico funciona de forma única, exigindo estratégias diferenciadas para acessar a linguagem escrita. Quando essas estratégias não são oferecidas, o que deveria ser uma jornada de descoberta se transforma em uma trilha de dor silenciosa.
💡 Por isso, ao perceber que a criança evita escrever, não termina tarefas, ou se mostra ansiosa diante de avaliações, o caminho não é cobrar mais, mas sim entender o que está por trás. Ao reconhecer essa dor invisível, começamos a agir com empatia, acolhimento emocional e apoio real, promovendo um ambiente em que a criança possa errar, aprender e crescer, sem medo.
O Diagnóstico: Libertação ou Prisão?
Quando o diagnóstico de dislexia chega, ele pode carregar dois significados: libertação ou prisão emocional. Tudo depende de como ele é comunicado, do suporte que o acompanha e do olhar que os adultos ao redor direcionam à criança.
🌱 Quando o diagnóstico liberta, ele tira um peso gigantesco das costas da criança. Dá nome ao que ela sente, valida sua experiência e, acima de tudo, rompe com a narrativa de que ela é “menos capaz”. Compreender que existe uma explicação neurológica para as dificuldades — e que há caminhos para superá-las — traz alívio, esperança e fortalece a autoestima. É como abrir uma janela em um quarto escuro.
✨ É nesse momento que muitas crianças escutam, pela primeira vez, algo transformador: “Você não é burro. Seu cérebro só aprende de um jeito diferente — e tudo bem.” Essa frase tem um impacto profundo no autoconhecimento e na autoimagem positiva da criança com dislexia.
🚨 Mas quando o diagnóstico aprisiona, a história muda. Quando é entregue de forma fria, sem escuta, sem apoio emocional, ou usado como justificativa para estigmatizar ou superproteger, ele se torna um novo rótulo. Ao invés de libertar, congela a criança em um lugar de limitação, onde ela começa a se definir por aquilo que não consegue fazer.
📌 Por isso, o diagnóstico não pode ser o fim da linha. Ele precisa ser o começo de uma nova trajetória, construída com acolhimento, estratégias inclusivas, escuta ativa e muito amor. Afinal, reconhecer a dislexia é um ato de respeito. Apoiar, é um ato de amor.
💬 “O dia em que meu filho sorriu com o diagnóstico”
Camila, mãe do André, lembra com emoção do dia em que recebeu o diagnóstico oficial de dislexia do filho. Após anos ouvindo que ele era “desatento”, “preguiçoso” ou “impossível de ensinar”, ela finalmente teve respostas. Mas a maior surpresa veio do próprio André, que, ao ouvir a explicação da psicopedagoga, perguntou baixinho:
“Então eu não sou burro?”
Essa pergunta, carregada de dor, diz muito sobre a relação entre dislexia e autoestima. Até aquele momento, André acreditava que o problema era ele. Que seu esforço nunca seria suficiente. Mas com o diagnóstico, veio a compreensão e com ela, o alívio.
A partir daquele dia, Camila mudou tudo: procurou uma nova abordagem pedagógica, envolveu a escola, criou uma rotina com menos cobrança e mais estímulo. E, sobretudo, passou a reforçar diariamente que o valor do filho não dependia das notas, mas sim do esforço, da coragem e da criatividade que ele mostrava a cada desafio.
Hoje, André não só participa das aulas com mais segurança como também se expressa com mais alegria. Criou um diário em quadrinhos, escreve histórias orais com a fonoaudióloga, e até apresentou um trabalho de ciências usando um podcast. Tudo isso porque alguém teve coragem de ver além dos erros ortográficos e enxergar ali um universo de possibilidades.
Como Fortalecer a Autoestima da Criança com Dislexia
A autoestima infantil não nasce do nada — ela é construída, palavra por palavra, gesto por gesto, no cotidiano. E quando falamos de crianças com dislexia, esse cuidado precisa ser ainda mais intencional. Porque muitas vezes, o que essa criança mais ouve é o que ela “não consegue”, quando na verdade ela está se esforçando mais do que todos.
📌 1. Valorize o esforço, não o resultado
Ao invés de elogiar só quando acerta, reconheça o processo. Diga:
“Você persistiu até o final. Isso é incrível!”
Essa mudança de foco ajuda a criança a entender que errar faz parte e que tentar já é um grande mérito.
📌 2. Reforce as habilidades em que ela se destaca
Muitas crianças com dislexia brilham na oralidade, criatividade, música, teatro, jogos, esportes e outras áreas que não exigem leitura e escrita. Valorizar esses talentos cria espaços seguros de autoestima, onde a criança sente que também é boa em algo, do seu jeito.
📌 3. Evite comparações com irmãos ou colegas
Comparar é como dizer: “você deveria ser diferente.” Em vez disso, diga:
“Cada pessoa tem seu ritmo. E eu amo te ver aprendendo como você é.”
📌 4. Crie momentos de sucesso diário
Pequenas vitórias constroem autoconfiança: completar um quebra-cabeça, montar uma receita, ler um título, gravar um áudio com uma ideia. Esses marcos precisam ser celebrados, porque eles dizem para a criança: “Você está evoluindo.”
📌 5. Inclua a criança nas decisões
Deixe que ela escolha o livro para ler, o lugar para estudar, o material escolar. Isso dá senso de autonomia e pertencimento, elementos fundamentais para fortalecer a autoestima em crianças com dificuldades de aprendizagem.
📌 6. Trabalhe com a escola estratégias inclusivas
Reforce com os professores a importância de adaptar provas, reduzir cópias extensas, usar tecnologia assistiva e permitir apresentações orais. Uma escola que acolhe desconstrói o mito do “incapaz” e cria oportunidades reais de aprendizado com dignidade.
❤️ Frases que Curam
Palavras têm poder. E quando vindas de um adulto que a criança admira, elas têm o potencial de moldar não apenas comportamentos, mas também a forma como ela se vê no mundo. Para a criança com dislexia, isso é ainda mais verdadeiro. Afinal, ela convive diariamente com frustrações, correções constantes e desafios escolares. Por isso, ouvir frases que reforçam seu valor, seu esforço e sua identidade é como respirar fundo depois de um mergulho longo.
✨ Aqui estão frases que, quando ditas com verdade e frequência, ajudam a reconstruir uma autoimagem positiva:
“Você é muito mais do que suas notas.”
Essa frase ensina que o valor da criança não está no boletim, mas em quem ela é: curiosa, esforçada, sensível, criativa.
“Errar não significa fracassar, significa que você está tentando.”
Ao normalizar o erro, mostramos que ele é parte do processo de aprender e não um defeito de quem tenta diferente.
“Você não está sozinho. Eu estou aqui com você.”
Essa é uma das maiores curas para o medo e a vergonha: a presença incondicional de alguém que não desiste.
“Seu cérebro é incrível. Ele aprende de um jeito único, e isso é um presente.”
Frases como essa fortalecem o sentimento de orgulho pela própria identidade, além de desmistificar a ideia de que a criança é “menos capaz”.
📌 Repetir essas frases não é mimar é reparar. É reequilibrar a balança emocional de uma infância que, muitas vezes, já foi marcada por críticas. E quanto mais cedo a criança escuta palavras que constroem, mais forte ela se torna para enfrentar o mundo.
Conclusão: A autoestima é o solo onde a aprendizagem floresce
Nenhuma criança nasce achando que é incapaz. Ela aprende isso com os olhares, as comparações, as palavras que escuta e com as que não escuta também. Por isso, quando falamos de dislexia e autoestima, não estamos falando apenas de um transtorno de aprendizagem. Estamos falando de identidade, dignidade e pertencimento.
O diagnóstico não precisa ser um rótulo. Pode ser uma ponte. Uma chance de dizer: “Agora que sabemos o que está acontecendo, vamos juntos encontrar os caminhos que funcionam para você.” E isso muda tudo. A criança com dislexia começa a se ver com mais carinho, com mais coragem, e com menos medo de errar.
Cada pequeno avanço, cada letra que ela consegue escrever, cada texto lido com esforço, é uma vitória imensa e merece ser celebrada com entusiasmo. Porque no fim das contas, não é sobre a velocidade com que ela aprende. É sobre a confiança que ela sente ao aprender do seu jeito.
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Sou redatora, educadora e eterna apaixonada pela arte de ensinar com o coração. Minha trajetória é feita de encontros: com a Pedagogia, com a Arte, com a Neuropsicopedagogia e, principalmente, com as histórias únicas de crianças e famílias que caminham fora dos trilhos tradicionais, mas que, mesmo assim, estão construindo pontes lindas rumo à inclusão.
Com especialização em Transtornos do Neurodesenvolvimento e um olhar atento à neurodiversidade, acredito que aprender vai muito além da mente. Envolve o corpo, os sentimentos, a criatividade e aquilo que não se vê nos boletins, mas pulsa forte na alma de cada criança.
Este blog nasceu do desejo profundo de informar, acolher e inspirar. Aqui, cada palavra é um convite à empatia, cada artigo é uma mão estendida, e cada tema traz luz sobre caminhos que podem e devem ser mais respeitosos, humanos e possíveis.
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